domingo, 26 de março de 2017

Da cítica do planejamento urbano a um planejamento urbano crítico.

O planejamento urbano tem produzido pensamentos e abordagens diferentes quanto a sua execução, seja por parte de pensadores esquerdistas, seja por parte dos pensadores conservadores.

Na perspectiva do pensamento marxista, se destacam alguns importantes pensadores, entre eles, Castellis e Harvey, considerados sociólogos e geógrafos urbanos, além do renomado Lefebvre, que segundo o texto, sofreu algumas objeções por parte de Harvey e, especialmente, por parte de Castellis. Todos esses fizeram reverberar a ideologia marxista aplicada ao tema do desenvolvimento das cidades.

Castellis e Harvey, embora divirjam de Lefebvre em muitos pontos, dedicarão maior energia em construir críticas ferrenhas ao pensamento conservador aplicado aos estudos urbanos, especialmente, a Escola de Chicago, em meados das décadas de 20 e 30. Nesse cenário, vão se contrapor tanto ao idealismo da Sociologia culturalista quanto ao Darwinismo social dos sociólogos urbanos da Escola de Chicago.

Para os pensadores marxistas, o problema está posto na redução dos conflitos sociais a uma mera competição entre indivíduos, numa interface com as ideias biológico-evolucionistas de “luta pela vida” e “sobrevivência do mais forte”, subestimando assim, a existência dos condicionamentos impostos pelas contradições de classe e recusando a interpretação dos conflitos também enquanto luta de classes.

Para Castellis e Harvey, era preciso promover uma espécie de “desnaturalização” da análise da produção do espaço urbano, no sentido de historicizar os problemas sociais manifestados na cidade, encarando o espaço urbano como um produto social e os problemas urbanos como consequência direta das relações de produção e de poder no mundo capitalista. Buscavam com isso, rechaçar a ideia de redução dos indivíduos a meros consumidores, ou seja, aquela ingênua percepção de que a sociedade nada mais é do que um agregado de indivíduos consumidores. Assim, Castellis e Harvey proporão a “desideologização” do estudo da cidade, no sentido de desnudar os limites e armadilhas da ideologia capitalista, numa propositura que vai de encontro a politização dos estudos urbanos.

Sabe-se que os marxistas divergiam em vários temas, mas suas ideias se tornaram unificadas na denúncia do planejamento como um instrumento a serviço da manutenção do status quo capitalista. Assim, o planejamento teria por missão criar as condições para uma sobrevivência do sistema a longo prazo – mesmo que, para isso, fosse necessário, algumas vezes, ir contra interesses imediatos de alguns capitalistas ou mesmo frações inteiras da classe capitalista.

Com o enfraquecimento do pensamento marxista frente ao triunfalismo conservador, após a queda do Muro de Berlim (1989), muitas dessas ideias perderam força. A crise do marxismo enfraqueceu o seu discurso, embora não permitisse concluir que houvesse falhado ou fosse desprovido de capacidade explicativa, independente do autor ou do assunto sobre o qual se estivesse falando. Isso se verifica ao perceber que as críticas marxistas ao planejamento encerram uma falácia, pois revelam uma inconsistência lógica. Essa falácia é denominada de acidente e apoia-se na generalização da crítica ao planejamento.

Essa prática questionadora e profundamente crítica, não foi exclusividade apenas do pensamento marxista, já que também os conservadores, construíram abordagens críticas sobre o planejamento, a partir da frustação com os resultados da intervenção estatal em geral. Percebeu-se a incapacidade de cumprir a promessa implícita sugerida pelo espírito Keynesiano, ao qual se buscava evitar as crises, na tentativa de salvar o capitalismo de si próprio ou mesmo fazê-lo prospero. Com o esgotamento das estratégias Keynesianas, o neoliberalismo surge e ganha força, eclodindo no mundo globalizado. Com isso, migra-se de um planejamento regulatório a um planejamento apoiado nas ideias de gestão. O planejamento assume uma subordinação ao mercado, acompanhando as suas respectivas e surpreendentes tendências. Além deste, o planejamento de facilitação, apreende uma nova abordagem, no qual buscava-se estimular a iniciativa privada, numa estreita relação entre vantagens e regalias, a exemplo, das isenções tributárias e subsídios diversos. E ainda, é possível verificar um terceiro espectro de planejamento, que está alinhado a ideia de administração privada, no qual enfatiza a parceria público/privada.

A grande questão que está posta perante tudo isso é de como realizar com segurança o percurso que vai da crítica do planejamento urbano a um planejamento urbano crítico?
Essa parece ser a questão centralizadora, que expõe as inquietações sejam dos marxistas, sejam dos conservadores. Com aplicabilidades e abordagens diferenciadas, o que se extrai dessas realidades contraditórias, é uma inegável necessidade de transição, que se fundamenta em novas perspectivas e proposituras, dentre as quais, identifica-se um pensamento orientado para o futuro, que possibilite fazer escolhas entre alternativas e considerar limites, restrições e potencialidades, assim como, consideração de prejuízos e benefícios. Além de tudo, busca-se uma maior lucidez quanto a verificação de possibilidades que forneçam diferentes cursos de ação, os quais dependem de condições e circunstâncias variáveis.

Nesse sentido, é importante perceber que as diferentes correntes ideológicas sempre estiveram envolvidas com o planejamento, embora fossem contrários em suas tessituras e abordagens. Isso se verifica claramente nos sistemas de planificação centralizada, os quais sempre buscaram firmar suas raízes em três distintas correntes de oposição ao status quo capitalista, a saber, o socialismo utópico, o anarquismo e o materialismo histórico.

Também se insere uma crítica a racionalidade instrumental e a Escola de Frankfurt, com as ideologias de massas e a massificação dos meios de comunicação, entre seus mais otimistas e pessimistas pensadores. Nesse sentido, Habermas vai apresentar que a racionalidade instrumental orienta uma ação estratégica, cujo linguagem não é usada para fins de entendimento, mas sim para fins de dominação e cooptação. A racionalidade não deixa de apresentar o seu caráter aprisionador, através da análise acrítica da adequação entre meios e fins. Entra-se em confronto uma racionalidade instrumental X uma racionalidade comunicativa aplicada ao planejamento.

Diante do exposto, chega-se então a grande questão sobre o que de fato é um planejamento crítico? Em linhas gerais, pode-se entendê-lo, como uma abordagem que ultrapassa o senso comum, a ponto de questionar realidades que estão postas, assim, como construções pré-estabelecidas, no sentido de buscar maior sentido e experimentação. No planejamento crítico, busca-se superar as ideias do tecnocratismo, a fim de alcançar outros referenciais de instrumentos que possibilitem novas perspectivas de planejamento e gestão urbana.


Para concluir, verifica-se a necessidade de se construir uma relação entre a evolução dos diversos pensadores e suas ideologias no avanço de uma abordagem crítica do planejamento a um planejamento urbano verdadeiramente crítico, que aprofunde e problematize as questões urbanas, a partir dos diferentes ciclos econômicos e suas infinitas conjecturas. Essas percepções, ajudam e corroboram com novas abordagens dos cenários urbanos e maior percepção dos problemas e condicionantes encontrados dentro do espaço urbano. Em qualquer cenário global, o que se verifica, é um caldeamento de situações que atuam e exercem força sobre o cenário urbano.

Homenagem a Dom Marcelo - Arcebispo Emérito da Paraíba - Ao tratar sobre a questão agrária


Dom Marcelo Pinto Carvalheira Arcebispo Emérito da Paraíba, realizou a sua páscoa definitiva, mas deixou-nos um legado de ternura e amor aos pobres. Em seus discursos e homilias, a voz forte de pastor ecoava e fazia arder o coração. Homem profético, culto e de uma humanidade indescritível, que tão naturalmente deixava exalar, como um perfume de agradável odor. Nesse vídeo, Dom Marcelo aborda a temática agrária, com a delicadeza e genialidade que sempre lhe foram companheiras, chamando todos a uma profunda conversão, sem contudo, agredir a quem quer que fosse. Em suas palavras fez reverberar a mensagem evangélica com toda a sua força e contundência, numa ânsia profunda por colaborar com a construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário. Obrigado Dom Marcelo por todos os ensinamentos e presença terna. Para sempre Dom Ternura em nossos corações e memórias.