Quero falar da alegria de ser
professor, pois o sofrimento de se ser um professor é semelhante ao sofrimento
das dores de parto: a mãe o aceita e logo dele se esquece, pela alegria de dar
à luz um filho.
Reli, faz poucos dias, o livro de
Hermann Hesse, O Jogo das Contas de Vidro. Bem ao final, à guisa de conclusão e
resumo da estória, está este poeminha de Rückert:
Nossos dias são preciosos,
mas com alegria os vemos passando
se no seu lugar encontramos
uma coisa mais preciosa crescendo:
uma planta rara e exótica,
deleite de um coração jardineiro,
uma criança que estamos ensinando,
um livrinho que estamos escrevendo.
Este poema fala de uma estranha
alegria, a alegria que se tem diante da coisa triste que é ver os preciosos
dias passando… A alegria está no jardim que se planta, na criança que se
ensina, no livrinho que se escreve. Senti que eu mesmo poderia ter escrito
essas palavras, pois sou jardineiro, sou professor e escrevo livrinhos. Imagino
que o poeta jamais pensaria em se aposentar. Pois quem deseja se aposentar
daquilo que lhe traz alegria? Da alegria não se aposenta.[…]
Para Zaratustra a felicidade
começa na solidão: uma taça que se deixa encher com a alegria que transborda do
sol. Mas vem o tempo quando a taça se enche. Ela não mais pode conter aquilo
que recebe. Deseja transbordar. Acontece assim com a abelha que não mais
consegue segurar em si o mel que ajuntou; acontece com o seio, turgido de
leite, que precisa da boca da criança que o esvazie.
A felicidade solitária é
dolorosa. Zaratustra percebe então que sua alma passa por uma metamorfose.
Chegou a hora de uma alegria maior: a de compartilhar com os homens a
felicidade que nele mora. Seus olhos procuram mãos estendidas que possam
receber a sua riqueza. Zaratustra, o sábio, se transforma em mestre. Pois ser
mestre e isso: ensinar a felicidade.
Rubem Alves em “A Alegria de
Ensinar” – Versão PDF – Páginas 7/8/9 (Trechos)
Disponível em: http://www.portalraizes.com/rubem-alves-2/. Acesso 01/04/2017.